Por Mayson Nogueira*
O programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA-UFAM) deu início a ação acadêmica inédita nesta terça-feira (22) no auditório Eulálio Chaves, setor sul da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Com a presença do xamã do povo Yanomani e intelectual indígena, Davi Kopenawa, a universidade por meio do PPGSCA e com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM) realizou cerimônia de abertura para as defesas de mestrado dos discentes, Odorico Yanomami, Edinho Yanomami e Modesto Yanomami, oriundos do município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro, norte do estado do Amazonas. Os três alunos da turma de 2023 do PPGSCA atuam como professores do ensino básico em língua Yanomami em um Xapono (casa comunitária) localizados no Rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro (AM) e vão ter Kopenawa nesta quarta-feira (23) em suas respectivas bancas como membro avaliador.
Convidado ilustre e principal orador do evento, Davi Kopenawa destacou em sua “aula magna” a resistência de seu povo perante ao avanço do homem branco e a matança de suas culturas e costumes Yanomami, principalmente em relação à língua nativa.
“A luta já tem, então temos que continuar a lutar para outros, querem acabar com a nossa língua, com o nosso costume, então temos que continuar a lutar!”, exclamou Kopenawa ao público presente no auditório.
Edinho Yanomami aborda em sua dissertação sobre a língua materna Yanomami, explicou que a escolha veio por meio da identificação e defesa do seu idioma nativo. “Por isso que escolhi esse tema, para eu aprofundar as palavras dessa língua e essa é minha preocupação, mesmo que difícil, finalizei esse trabalho”, relatou Edinho ao Portal da Ciência.
O mestrando também mencionou a importância de Kopenawa como membro de sua banca de defesa. “É muito bom, ter ele, não só na minha defesa mas nos outros também. Uma referência, único para nós e é muito bom ter ele em minha defesa”, disse Edinho Yanomami.
Caio Souto, coordenador do PPGSCA/UFAM, destacou o pioneirismo da universidade para incluir a educação indígena, tanto na sede em Manaus como no interior do estado e a importância de inclusão dessas pessoas. “Isso é uma coisa inédita dentro do nosso programa e tem poucas ações desse tipo no Brasil e é o diferencial, ir até eles”, disse Caio sobre a expansão do programa de pós-graduação.

Além disso, o coordenador ressaltou a presença de Kopenawa durante as defesas de dissertação dos discentes como símbolo de resistência. “O Davi é uma figura que é respeitada tanto pela questão da liderança indígena e academicamente. Vai ser uma alegria enorme que ele possa examinar os trabalhos que fizemos aqui”, declarou.
Finalizando o primeiro encontro nesta ação inédita, Davi Kopenawa enfatizou sobre a posição do índigena Yanomami perante à sociedade brasileira e a natureza da floresta amazônica. “O Yanomami não é macaco, ele que cuida de toda a beleza da nossa Amazônia, a língua é muito rica, o pensamento é rico, nós temos o nosso lugar!”, concluiu.
*Repórter do Portal da Ciência (Sob a supervisão do prof. Me. Gabriel Ferreira