Por Gabriel Ferreira*
Na época que fui vacinado recebi a dose única da famosa Janssen, imunizante contra a covid-19 comprovado cientificamente eficaz contra a doença do novo coronavírus.
Posso dizer que fui um privilegiado de certo modo por justamente no mesmo dia em que liberaram para minha faixa etária, naquele período, aos 25 anos, o imunizante disponível era esse.
Mas faço questão de ressaltar que jamais fui negacionista e muito menos sommelier de vacina. Vale destacar que muito negacionista enrustido se travestia de escolhedor de imunizante. Por exemplo, o que era da China não prestava, pois foi lá que a pandemia havia começado e aquele papo furado de país comunista. Coisa de patriota ignorante e obtuso, alimentado por fake news no zap zap.
Graças a minha boa educação pública e a convivência com gente inteligente e sensata, eu sempre acreditei na ciência e aprendi cedo que as vacinas salvam vidas, salvaram a vida de muitos dos meus. Poderia ter salvado muito mais se não tivéssemos um genocida na presidência, um governador negacionista no estado e prefeitos perdidos e despreparados na capital da Amazônia.
Enfim! no dia em que recebi a dose única fui levado de carro por minha namorada naquele ano e hoje esposa, em uma espécie de drive thru vacinal organizado pela Saúde do Amazonas.
Os efeitos colaterais vieram durante a noite, mas nunca me senti tão seguro apesar de ter dormido muito mal naquele dia.
Fora o momento único de minha imunização, senti os ventos das boas notícias pairando. Eu já trabalhava mais tranquilo. As contaminações e mortes por covid iam reduzindo com o avançar da vacinação. O cenário era um alento para tudo que estávamos acompanhando no dia a dia.
Pensar e escrever sobre um futuro não tão distante sem covid me enchia de esperança. Mas também me fazia refletir sobre como devemos nos importar com quem está do nosso lado. É preciso ter um olhar humanizado ao se fazer jornalismo. Não é produzir por produzir ainda que o modus operandi do Jornalismo Amazonense seja assim feroz, frio e calculista. É olhar menos para as métricas e o lucro, e mais para o papel de agente social e transformador no todo.
*Jornalista, pesquisador e professor universitário
Foto: Reprodução/ AFP