Uma CPI “espetacular”

Por Gabriel Ferreira*

Formada pelo senador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), como presidente, senador Randolfe Rodrigues (PT), do Amapá como vice-presidente, e o senador de Alagoas, Renan Calheiros como relator, a CPI da Pandemia, ou da Covid foi espetacular realizada por cinco meses em 2021. Sim, mas um espetáculo midiático.

Ao longo dos meses de trabalho desta comissão parlamentar de inquérito para apurar os crimes cometidos na pandemia da covid-19 em curso no Brasil, deu lugar a uma série de embates nas oitivas daqueles que carregam parcela de culpa pelas vítimas da doença.

Com um parlamentar do Amazonas a frente da CPI mais importante dos últimos tempos na República Brasileira, nós jornalista deste estado vivíamos de prontidão a cada sessão, ainda mais quando havia alguém do governo Bolsonaro para depor.

Nessa época eu ainda usava minha conta na finada rede social Twitter (X), agora do neofacista Elon Musk, dominada pela extrema direita e por desinformação, para acompanhar a repercussão e as prévias do que poderia ser cada depoimento.

Neste texto irei recordar um em particular, entre os mais de 50 colhidos, mas com ligação direta ao Amazonas, e que mais me chamou atenção. E aposto que a sua também que está lendo este artigo.

Estou falando de Eduardo Pazuello, que lembro dias antes do finado Twitter, havia uma torcida organizada em favor de Renan Calheiros, quem diria, para que suas perguntas subjugassem o ex-ministro da Saúde. Sinto pelo tal feito não ter sido atingido. Até porque como tática para se safar de qualquer responsabilidade, conseguiu um habeas corpus de salvo conduto para se manter em silencia durante os questionamentos. E assim ocorreu.

Por detrás de uma máscara, suando feito um porco (como diz o caboco), e encolhido em seu assento, acovardou-se. Tentava até mesmo agir como tudo estivesse bem, sorrindo vez ou outra para algum parlamentar bolsonarista de sua laia, pois ali haviam os tumultuadores negacionistas da base do governo de Jair Bolsonaro.

Naquela sessão as perguntas de forma simbólica conseguiram jogar Pazuello contra a parede, mas o direito garantido a ele pela Justiça, veja que vergonha, não nos deu respostas, principalmente aos que perderam seus entes queridos, como na crise de oxigênio em Manaus.

Até hoje, inclusive fica a indignação de não haver responsabilização nominal de quem deixou os amazonenses morrerem. Apesar dos indiciamentos, até então ninguém foi preso ou pelo menos condenado. O estado pode até indenizar, mas isso não é suficiente. Qual o valor de uma vida? Aposto que para o ex-ministro de Bolsonaro, não deve valer nem os “sacos pretos” que ele pediu para comprar na pandemia para os mortos, conforme revelou sua ex-mulher.

Pois é, o que fica aqui é a lembrança da covardia de um general estrelado nas Forças Armadas, desumano e conhecido como o ministro da Saúde que condenou os amazonenses a morte por asfixia. O mesmo que foi tratado como amigo pelo atual prefeito e pelo governador. Aqui fica meu eterno repúdio a você ex-ministro. Um dia a conta vai chegar. E não sou eu quem vai julgar, mas jamais deixarei de expressar minha opinião.

*jornalista, pesquisador e professor universitário

Foto:  Jefferson Rudy/Agência Senado

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