“Projeto Adapta” simula temperaturas do ano 2100 em salas de controle climático

Por Luísa Geber*

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), limitar o aquecimento global a 1,5°C em vez de 2°C poderia reduzir significativamente o número de pessoas afetadas por condições climáticas extremas.

Nesse sentido, muito se discute sobre como as mudanças climáticas vem impactando a vida das pessoas, principalmente com os eventos extremos registrados nos últimos anos. Porém, ainda pouco se fala sobre como os animais aquáticos poderão sobreviver e até mesmo se adaptar a essas mudanças.

Com o objetivo de entender essa realidade a longo prazo, o Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM), orientado pelo pesquisador Adalberto Luís Val no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), criou o Projeto ADAPTA, que simula temperaturas do ano 2100 em quatro salas monitoradas de acordo com as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC).

Essas salas de controle de mudanças climáticas recebem informações em tempo real de uma torre localizada em uma reserva florestal em Manaus, a fim de simular as condições do final deste século. A partir desses dados se analisa a quantidade de gás carbônico, a temperatura e a umidade do ar de maneira leve, intermediária e drástica. A primeira sala simula a temperatura ambiente, enquanto a última sala registra em média 5 graus acima do habitual.

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Aplicabilidade da pesquisa

Em relação às espécies de peixes analisadas no Laboratório, estudam o tambaqui, matrinxã e peixes de igarapé. De acordo com Jhonatan Mota da Silva, mestre em Aquicultura e pesquisador bolsista do Projeto ADAPTA, a pesquisa tem grande importância e aplicabilidade, pois busca entender as transformações biológicas desses animais, bem como os impactos para a economia pesqueira e aos produtores rurais.

“Para o tambaqui crescer em determinada temperatura, ele tem que comer mais [..]. Com o efeito climático, os peixes vão comer mais, o produtor vai ter que dar de comer mais ração e ele não vai ter retorno”, afirmou o pesquisador, ressaltando que essas dificuldades podem afetar até mesmo a alimentação humana.

Mudanças na taxonomia dos peixes

Já no que diz respeito às mudanças físicas dos peixes percebidas durante a pesquisa, Jefferson Almeida Silva, também pesquisador do Projeto ADAPTA, disse que algumas espécies apresentaram desvios de coluna e dentição mais prolongada na sala de controle em condições extremas. Essas transformações influenciam diretamente na forma como nadam e se alimentam. Além disso, esses elementos climáticos podem até mesmo causar câimbras aos peixes, o que os impede de nadar e os tornam mais suscetíveis a predadores.

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Extinção e Adaptação

Apesar de se encontrarem no mesmo quadro climático durante as análises, cada espécie de peixe responde de maneira diferente aos efeitos extremos. A preocupação dos pesquisadores é justamente entender quais se adaptarão melhor e quais são mais suscetíveis à extinção.

A pesquisa e o futuro dos peixes

O Projeto ADAPTA analisa o futuro das espécies aquáticas da Amazônia face às mudanças climáticas, simulando cenários extremos esperados para o ano de 2100.

O estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) revela não só os desafios biológicos que os peixes enfrentarão com o aumento das temperaturas, mas também os impactos econômicos.

Com a previsão de temperaturas até 5°C acima do normal, as simulações indicam um futuro incerto: mesmo que algumas espécies possam se adaptar, outras correm risco de extinção. A pesquisa destaca a necessidade urgente de políticas e soluções para a mitigação dos efeitos climáticos, tanto para a preservação da biodiversidade quanto para a segurança alimentar da região.

*acadêmica do 6º período de Jornalismo da FIC-UFAM (Reportagem desenvolvida para a disciplina de Jornalismo Científico ministrada pelo prof. Me. Gabriel Ferreira)

Foto: Ascom/ Inpa

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