Peixes da Amazônia sofrem com aumento da temperatura, alertam pesquisadores

Por Anne Karoline Menezes*

O aumento da temperatura nas águas da Amazônia tem causado preocupação entre pesquisadores e comunidades ribeirinhas.

O fenômeno, intensificado pelas mudanças climáticas globais, está afetando diretamente as espécies de peixes da região, fundamentais para o equilíbrio ecológico quanto e a subsistência de milhares de pessoas.

Diversos estudos realizados por especialistas e órgãos ambientais apontam que a elevação da temperatura da água pode desencadear uma série de problemas que ameaçam a biodiversidade aquática e a segurança alimentar das populações que dependem da pesca.

Pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) indicam que o aquecimento das águas compromete a sobrevivência de espécies ao reduzir o nível de oxigênio dissolvido nos rios e lagos.

Segundo a bióloga Dra. Joana Souza, especialista em ecologia aquática do instituto, a falta de oxigênio coloca muitas espécies em risco.

“Os peixes da Amazônia são particularmente sensíveis às variações no teor de oxigênio da água. Quando a temperatura aumenta, a capacidade de retenção de oxigênio na água diminui. Isso pode levar a uma mortalidade significativa entre os peixes, especialmente aqueles que já estão em situação vulnerável”, explica Souza.

Um dos exemplos mais emblemáticos é o pirarucu, uma das maiores espécies de peixe de água doce do mundo e uma importante fonte de renda e alimento para as populações locais. O pirarucu precisa de águas bem oxigenadas para sobreviver, e a elevação da temperatura pode prejudicar sua reprodução e crescimento.

“O pirarucu já enfrenta desafios com a pesca predatória e a perda de habitat. O aumento da temperatura das águas pode agravar essa situação, colocando ainda mais pressão sobre a espécie”, acrescenta a
pesquisadora.

O impacto do aquecimento das águas não afeta apenas os peixes. Carlos Lima, professor de ictiologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), destaca que a pesca é uma atividade essencial para a economia das comunidades ribeirinhas. Com a queda na população de peixes, a renda dessas famílias pode ser diretamente afetada.

“A pesca é a principal fonte de sustento para muitas comunidades da Amazônia. Se os peixes desaparecem ou migrarem para áreas mais profundas e frias, os pescadores podem não conseguir acompanhá-los, o que pode levar a uma crise econômica local”, afirma o professor.

Além dos impactos econômicos, Carlos Lima ressalta que o aquecimento das águas pode desequilibrar toda a cadeia alimentar. “Os peixes não vivem isoladamente. Eles fazem parte de um ecossistema complexo. Se uma espécie é afetada, isso pode ter um efeito em cascata, prejudicando outras espécies e o equilíbrio do ambiente”, explica Lima. Esse desequilíbrio pode afetar não apenas as populações de peixes, mas também os predadores que dependem deles para se alimentar, como aves e mamíferos aquáticos.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), também vem monitorando de perto os impactos das mudanças climáticas na Amazônia.

Em nota, o instituto informou que está conduzindo uma pesquisa em parceria com universidades e outras instituições para entender melhor como o aumento da temperatura afeta os ecossistemas aquáticos.

“Os primeiros resultados indicam que o aumento da temperatura das águas está alterando os padrões de migração, reprodução e alimentação de várias espécies de peixes. Isso pode ter consequências graves para a biodiversidade e para os serviços ecossistêmicos que esses ambientes prestam, como a
pesca”, afirma o IBAMA.

O órgão destacou ainda que, além dos efeitos diretos sobre os peixes, o aquecimento global pode alterar a dinâmica das águas dos rios amazônicos, afetando os ciclos de cheias e secas que são vitais para a reprodução de várias espécies aquáticas.

Segundo o IBAMA, a adaptação a essas mudanças exigirá um esforço conjunto entre o governo, instituições de pesquisa e as comunidades locais. “Precisamos de estratégias de conservação que levem
em conta esses novos desafios. Preservar as áreas de nascentes e as matas ciliares que ajudam a regular a temperatura das águas é fundamental”, destacou o instituto.

Para as comunidades que dependem da pesca, o impacto já está sendo sentido. O Professor João Ribeiro, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, aponta que as populações ribeirinhas relatam mudanças no comportamento dos peixes.

“Os pescadores já nos dizem que alguns peixes são mais difíceis de encontrar e que precisam ir mais longe ou mais fundo nos rios para capturá-los. Isso gera uma demanda maior por tempo e recursos, o que afeta diretamente a vida dessas pessoas”, explica Ribeiro.

O pesquisador também enfatiza que as mudanças climáticas podem exigir adaptações rápidas por parte das comunidades. “Com os peixes migrando para áreas mais profundas e com temperaturas mais amenas, os pescadores terão que se adaptar, buscando novas técnicas e áreas de pesca. Mas isso nem sempre é simples, principalmente para quem depende das práticas tradicionais que foram passadas de geração em geração”, ressalta.

Para enfrentar esses desafios, especialistas defendem a criação de políticas públicas que promovam a conservação dos ecossistemas aquáticos e ajudem as comunidades ribeirinhas a se adaptarem às novas condições ambientais.

“Precisamos pensar em soluções de longo prazo, que envolvam tanto a preservação ambiental quanto o
desenvolvimento sustentável das populações que vivem na Amazônia”, conclui Dra. Joana
Souza, do INPA.

*acadêmica do 6º período de Jornalismo da FIC-UFAM (Reportagem desenvolvida para a disciplina de Jornalismo Científico ministrada pelo prof. Me. Gabriel Ferreira)

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Foto: Ascom/ Inpa

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