O cansaço mental

Quanto tempo dura uma quarentena? A etimologia da palavra obviamente refere-se a quarenta. Na saúde, o termo é aplicado a quarenta dias de isolamento de pessoas que podem acarretar perigo de infecção.

Foi por isso que passamos na pandemia da covid-19. Uma quarentena, que não durou apenas 1 mês e 9 dias. Para mim, foram dois anos de sufoco.

Pensava que não ia mais viver como antes. E parando para pensar. Hoje em dia, parece até que demos um salto no tempo, pois a covid-19 chegou no Brasil há 4 anos.

Durante minha rotina de trabalho, desde o começo, a sensação era sempre ruim. O acúmulo de entulhos de desinformações e a artilharia pesada daquilo que realmente era informação e podia virar matéria era pesado e intenso, e eu também afirmo que isso me gerou um desgaste severo.

Nem as férias que tirei deu conta do peso que eu carregava. Vivia dentro do meu quarto, na frente do computador, sentado na minha cadeira, com o braço recostado na escrivaninha e sendo bombardeado sobre a Covid-19.

O algoritmo das redes sociais só tratava disso. Me sentia sugado por tudo aquilo.

Para tentar amenizar o cansaço mental que vivia, passei a escrever poesias, fazia algumas fotos da janela de casa, principalmente na época que morei de aluguel com meus irmãos, num bairro periférico de Manaus, que carinhosamente eles chamavam de cafundó.

Aliás, eu li bastante na pandemia. Tenho uma estante cheia de livros. Diversos temas. Eu li do “Confissões” de Santo Agostinho a graphic novels como “Maus”, de Art Spilgerman. Por sinal, recomendo. Acredito que foram mais de 20 livros em apenas um mês. Eu me tornei um leitor ainda mais assíduo.

Os livros me ajudaram muito nesse período. O meu extremo na quarentena foi quando resolvi comprar uma máquina de cortar cabelo e raspei usando o pente número 1. Foi libertador.

Todo esse momento vivi no ano de 2020, e ainda estávamos no início da pandemia. Ainda tinha muita coisa por vir.

Me perdoe, mas como são artigos de memórias, é difícil de organizar cronologicamente e lembrar tudo de mês a mês. Mas a ideia é de reflexão e expor um pouco do que mais me recordo. Repito, espero que isso possa instigar a outros colegas jornalistas a se abrirem também e contarem suas experiências. Escrevam. Nossas memórias são valiosas mesmo de um tempo sombrio.

E este tempo é que faço questão de descrever o quanto me perturbou. Não estou fazendo aqui papel de coitado ou algo parecido, mas mostrando que nós jornalistas somos seres humanos. Devemos nos cuidar. Cuidar da nossa saúde física e mental. Há maneiras simples de fazer isso. Infelizmente o tempo e a carga de trabalho muitas das vezes nos consome demais. Na pandemia, a própria quarentena se encarregou disso. Uma causa e consequência, pois a doença proliferava e não havia muito o que fazer. Penso que foi uma das decisões mais acertadas: o isolamento social. Sim, há estudos que comprovam que essa medida ajudou a salvar vidas, apesar de ainda convivermos com pessoas que negam a ciência e tentam dizer o contrário.

Mas o desafio no isolamento, era o que fazer para não enlouquecer dentro de casa? Isso para aqueles que tinha condições de ficar em casa, trabalhar em casa. E os que não podiam? O governo na época nem queria dar auxílio. Deu graças a pressão do Congresso Nacional, capitaneada pela oposição, liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Era um cenário crítico, com muita falta de sensibilidade, principalmente da classe política da extrema direita que comandava o país e isso nos refletia.

Foi perturbador. Minha mente cansava a cada vez que eu tinha de lidar com tantos problemas. Era o vírus, era o bolsonarismo, a indiferença.

Graças a Deus, tudo isso passou. O registro que deixo aqui é para lembrar que 2020 foi um dos piores anos da história da humanidade, do nosso país, do Amazonas, de Manaus. Ainda bem, que esse tempo não voltará jamais.  Ufa! que alívio. Sigamos em frente, mas sem esquecer pelo que passamos, pois com certeza tiramos uma lição valiosa em meio a tanta dor e sofrimento.

Foto: Gabriel Ferreira

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