Por Larissa Gemaque*
O programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA-UFAM) realizou nesta quarta-feira (23), no auditório Rio Solimões, no setor norte da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) as defesas de mestrado de três discentes indígenas do povo Yanomami.
As bancas foram presididas pelos professores do programa de pós-graduação, Caio Souto, Agenor Cavalcante e Marilene Corrêa. Entre os convidados avaliadores, esteve o xamã Yanomami e intelectual indígena Davi Kopenawa que participou pela primeira vez como membro da banca de mestrado, ato este considerado um marco para educação indígena e valorização dos saberes tradicionais na universidade.
Ao longo do dia, Odorico Xatamari Yanomami, Edinho Yanomami e Modesto Yanomami, de São Gabriel da Cachoeira (AM), apresentaram suas dissertações, compartilharam suas experiências individuais e destacaram a importância dos temas relacionados ao povo Yanomami, assim como a comunidade acadêmica. Os três foram aprovados e conquistaram o título de mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia.
As defesas
Pela manhã, Odorico Yanomami apresentou uma autoetnografia do corpo indígena trazendo reflexões e escrita pessoal por indivíduos indígenas. À tarde, Edinho e Modesto defenderam suas respectivas pesquisas sobre a língua materna Yanomami, bem como reflexões e transformações da música na vida do povo.

Edinho destacou na sua dissertação a importância da língua materna Yanomami, tendo em vista que o idioma é apenas transmitido de forma oral, portanto, não utilizam a escrita. Diante disso, o pesquisador indígena desenvolveu um vocabulário de 30 palavras que os “antigos” falavam para o ensino às crianças e adultos yanomamis.
“Hoje em dia, os Yanomami não estão conseguindo escrever na língua Yanomami. É por isso que eu me senti, eu fiz esse trabalho da língua Yanomami. Para eu registrar, para manter viva a cultura da língua. (…) Não é resgatar, é registrar!’’ declarou o pesquisador em entrevista ao Portal da Ciência.
Além disso, Edinho produziu esse trabalho pensando em sua realidade e no futuro das próximas gerações Yanomami. “Como os antigos falavam os jovens não sabem mais” afirmou o discente que segundo ele, o excesso do uso da tecnologia tem desestimulado e jovens e crianças indígenas a aprender sobre a cultura e a história do seu povo.
A dissertação foi aprovada pelas bancas e elogiada por Davi Kopenawa. “É resultado da nossa luta, da minha luta! (…) Vão continuar falando! A língua não pode ser esquecida!” Exclamou o xamã.
*Repórter do Portal da Ciência (Sob a supervisão do prof. Me. Gabriel Ferreira)