Por Eduarda Santiago*
Durante as discussões da Conferência Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), Adalberto Val, biólogo, professor universitário e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em entrevista ao Portal da Ciência, projetou um futuro para a Amazônia em um cenário pós conferência, realizada em Belém (PA).
As avaliações do pesquisador em relação as discussões na COP-30 são claras, e para ele, os debates mostraram amadurecimento para proteção da Amazônia e outras florestas tropicais. Segundo Val, a Amazônia não deve
ser tratada apenas como discussão, mas com ações concretas e permanentes. Diante disso, o pesquisador reconhece um avanço importante: visibilidades para as florestas.
“Ainda há muito a avançar, especialmente em financiamento e implementação, mas percebo um avanço importante: as florestas tropicais, incluindo a Amazônia, começam finalmente a receber a atenção
internacional compatível com sua urgência e sua importância para estabilidade do planeta”, afirmou.
Segundo Adalberto Val, a realização da conferência na Amazônia foi um ponto de virada para as discussões climáticas. De acordo com ele, a sede realizada na capital paraense possibilitou melhor visualização para Amazônia como um sistema vivo essencial para a estabilidade climática planetária, segurança hídrica e alimentar, e para novas economias baseadas na sociobiodiversidade, como um ponto chave para o protagonismo das instituições científicas e para os povos da Amazônia.
O pesquisador afirmou que se os debates na Conferências forem levados adiante, será finalmente o reconhecimento de proteção a floresta.
“Se conseguirmos transformar compromissos em ação contínua, este poderá ser lembrado como o momento em que o mundo finalmente entendeu que proteger a Amazônia é proteger a si mesmo”, concluiu.
Para o biólogo, a esperança é que a COP deixe políticas reais ao invés de promessas falsas, e espera-se que a Conferência impulsione investimentos em saúde, educação, conectividade, ciência e bioeconomia que beneficiem diretamente quem vive na floresta e nos rios. De acordo com o pesquisador, a Amazônia precisa ser visibilizada e reconhecida com sua força que está na conexão entre saberes indígenas, ciência moderna, experiências locais e políticas públicas consistentes.
Ele também comentou sobre a demarcação de terras e que a Amazônia não é um espaço “protegido de longe”, e sim um lugar habitado, onde há bem-estar para as pessoas.
“Para povos indígenas e ribeirinhos, o reconhecimento de seus territórios, saberes e direitos precisa ser permanente, não episódico. A COP30 deve consolidar a compreensão de que a Amazônia não é um
espaço vazio a ser “protegido de longe”, mas um lugar habitado, onde o
bem-estar das pessoas é inseparável da saúde dos ecossistemas”, detalhou o biólogo.
Num futuro após a COP, o professor Adalberto Val espera que as melhorias na fiscalização e gestão ambiental da Amazônia sejam aplicadas com coerência e discurso na prática, a COP está sugerindo um norte, mas é necessário compromisso político e parcerias internacionais.
“A Amazônia precisa de fiscalização moderna, baseada em tecnologia, ciência e presença institucional contínua. Não basta reagir a crises: é preciso gestão preventiva, integrada e transparente. Plataformas de monitoramento, uso de IA, fortalecimento de órgãos públicos, apoio às universidades e aos centros de pesquisa, tudo isso é fundamental”, declarou.
Ponto de não retorno
Pesquisador sobre as adaptações biológicas causadas por desastres climáticos e aqueles que são causados pelo homem, Adalberto Val disse que a COP-30 reforçou que a Amazônia está próxima de limites críticos e esse fator é válido para a vida aquática devido as mudanças de temperatura.
“A COP30 reforçou globalmente que a Amazônia está próxima de limites críticos, e isso vale também para os ecossistemas aquáticos. As temperaturas extremas, secas severas, alterações no pulso de inundação
e poluição estão remodelando a vida nos rios”, explicou.
A proposta da Conferência com painel “tipping points” (ponto de não retorno – estado em que o ecossistema não entra mais em regeneração, entrando em estado de retroalimentação). Para ele, significa
estudar e investigar, propondo cenários e ações de mitigação e adaptação.
“Ao colocar o tema dos “tipping points” no debate internacional, a COP amplia apoio para estudos integrados, monitoramento contínuo e cooperação científica. Para nós, que trabalhamos com fisiologia e adaptações dos peixes, isso significa mais bases para investigar vulnerabilidades, projetar cenários e propor ações de mitigação e
adaptação”, disse.
Foto: Lucciano Lima/ ASCOM INPA
*Repórter do Portal da Ciência sob a supervisão do Prof. Me. Gabriel Ferreira





