Para além da valorização, é preciso pensar na saúde mental dos professores

Por Luís Castro*

O dia 15 de outubro é marcado por comemorações em alusão ao Dia do Professor, celebrado anualmente. É inegável a grande responsabilidade que carregam consigo de ensinar as próximas gerações, afinal, essa é a profissão que forma todas as outras. Mas será que temos valorizado o suficiente este esforço? E mais, temos prezado pela saúde mental deles?

A resposta é curta e direta: não. E, com exemplos muito claros, desde pesquisas que apontam que o estresse dos professores está cada vez maior, até exemplos trágicos, como o caso de um docente que morreu enquanto aguardava sua demissão de uma escola onde trabalhava em condições que o adoeceram psicologicamente.

Não é difícil reconhecer que esses profissionais da educação estão cada vez mais adoecidos – uma pesquisa de 2023 feita pelo instituto Ipec apontou que 71% dos professores brasileiros estavam estressados com sobrecarga de trabalho.

O estudo mostrou ainda que apenas 7% dos mais de 6.700 professores entrevistados concordaram que, no Brasil, professores eram tão valorizados quanto médicos, engenheiros e advogados. Além disso, 18% dos participantes da pesquisa defenderam a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes.

E também não é difícil observar esses números na prática – em setembro deste ano, um professor da rede pública do estado de Tocantins teve sua demissão aceita menos de 24 horas após morrer de infarto. Ele já havia tentado o desligamento duas vezes.

Carlos Eduardo Meira Batista, 29 anos, protocolou os pedidos de remoção com laudos médicos que apontavam problemas de saúde. O docente teria começado a usar medicamentos tarja preta após situações de hostilidade na unidade de ensino em que lecionava. Pessoas próximas ao professor de história relataram que Carlos denunciou situações de assédio no ambiente de trabalho, além de ter sido alvo constante de perseguição e bullying por estudantes.

Professor Carlos Batista. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A primeira tentativa de desligamento teria sido negada pois o docente estaria em estágio probatório. A segunda tentativa foi aceita, no entanto, menos de um dia após o professor morrer em decorrência de um infarto.

A falta de valorização, a partir daqui, não se restringe apenas a condições de trabalho dignas, mas se expande a falta de valorização de vidas.

Quantos professores terão que adoecer, e até mesmo morrer pois não têm o mínimo de apoio? Quantas pesquisas terão que ser feitas para identificar o que já sabemos há decadas?

É muito fácil dizer “Feliz dia dos professores” uma vez por ano e esquecer os desafios vividos pela classe todos os dias.

Que nós possamos pensar coletivamente em um sistema de educação que dê o valor necessário aos profissionais que, assim como dito no início deste texto, formam todos os outros.

Malala já dizia: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. Que possamos entender o real sentido dessa frase.

*Repórter do Portal da Ciência, sob a supervisão do Prof. Me. Gabriel Ferreira

Foto: Reprodução/Arquidiocese de Florianópolis

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