Por Luís Castro*
Cientistas do mundo todo rebateram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após uma afirmação polêmica. O republicano associou o uso de paracetamol por grávidas ao desenvolvimento de autismo em crianças.
No discurso que ocorreu em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (22), Trump citou ainda um “aumento exponencial” no número de casos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), também questionado.
A afirmação foi duramente criticada pela comunidade científica internacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, nesta terça-feira (23), que as evidências da fala de Trump permanecem inconsistentes e alertou para conclusões precipitadas.
Da mesma forma, a Agência Mundial de Medicamentos (EMA) reforçou que não há novas evidências que possam provocar mudanças nas recomendações atuais sobre o uso do paracetamol. Em comunicado divulgado também nesta terça, o órgão menciona que “as evidências disponíveis não encontraram nenhuma ligação entre o uso do paracetamol na gravidez e o autismo”.
Até mesmo o Ministério da Saúde do Brasil reagiu à declaração de Trump. Em publicação feita nas redes sociais, o órgão reforçou a segurança do medicamento para gestantes e mencionou a aprovação da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, citou que o TEA é alvo frequente de desinformação por sua complexidade.
A sugestão do presidente dos EUA de que o número de casos de autismo teria aumentado também é questionada. Usada no contexto em que associa o paracetamol como causa do TEA, o aumento nos números no mundo todo pode ser consequência de um crescimento na identificação. Profissionais de saúde vêm se aprimorando ao longo dos anos no que diz respeito à aplicação de critérios e diagnóstico do autismo, o que reflete o avanço da tecnologia e portanto, no aumento dos casos, tratado como “epidemia” pelo governo Trump.
Por mais que tenha sido rebatido por cientistas, Trump disse ainda na coletiva que a Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa nos EUA, vai mudar a bula do paracetamol e alertar médicos no país sobre o medicamento e farmacêuticos similares.
A decisão evidencia o desafio que a ciência continuará enfrentando no governo de Trump, que opta com frequência por ir na contramão de especialistas e abraçar teorias infundadas.
Um exemplo disso pôde ser observado nesta terça, em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), onde chamou as mudanças climáticas de “a maior farsa já perpetrada no mundo” e que o consenso científico foi feito por “pessoas estúpidas”. O tiro deve sair pela culatra.
*Repórter do Portal da Ciência sob a supervisão do Prof. Me. Gabriel Ferreira
Foto: REUTERS/Kevin Lamarque