O que vi sobre Rosemary Pinto

Uma jovem senhora, cabelo castanho escuro, de óculos com armação arrendondada, olhos claros e vibrantes, e uma postura de liderança. Esta era Rosemary Pinto. Nunca a conheci pessoalmente, mas o contato virtual diário com ela gerou uma conexão entre nós. Acredito que com todos os jornalistas que cobriram a pandemia da Covid-19 no Amazonas.

Diretora da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), que hoje leva seu nome na placa, Rosemary Pinto batalhou acredito eu contra o negacionismo existente dentro do próprio governo em que fazia parte. Pois muito além da capacidade técnica, a indicação ao cargo também vinha de cima.

Desde a primeira coletiva de imprensa para anunciar o triste primeiro caso de covid no Amazonas e da região Norte, sempre esteve à frente desse momento de tensão, tristeza, dor e sofrimento. Das inúmeras vezes que eu acompanhei narrando as informações do boletim da covid, percebi a voz dela embargar algumas vezes. Dava pra sentir na captação pelo microfone a respiração forte daquela mulher que tinha sob seus ombros um peso que nenhum de nós consegue imaginar.

Não estou fazendo papel de advogado de defesa num tribunal da internet sobre o papel de Rosemary Pinto durante a pandemia. Mas destacando as minhas impressões, e disso ninguém pode me tirar. Podem criticar, a vontade, mas se trata da minha subjetividade.

Imagina você estar a frente de uma crise sanitária, onde uma doença feroz ceifa a vida de pessoas de maneira tão súbita? Quais as decisões tomar? Como lutar contra decisões políticas? Como suportar a pressão dos políticos e empresários negacionistas?

Eu gostaria de ter feito essas perguntas a ela. Não foi possível, como escrevi nos textos anteriores, o meu contexto era outro. E mesmo virtualmente era difícil chegar até Rosemary.

Continuando sobre minhas impressões da diretora da FVS-AM, eu vi coragem nos olhos daquela mulher. Nunca conversei com alguém que trabalhou diretamente com ela. Então, não sei como ela era pessoalmente. Mas isso fica guardado para seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

E por que estou adotando esse tom saudosista aqui? Pois bem, Rosemary Pinto aos poucos foi sumindo das lives. Na época não me dei conta disso, pois estava tão cansado mentalmente que já estava no automático.  

Algum tempo depois do sumiço da diretora da FVS, descobri que ela estava muito doente. No dia 22 de janeiro de 2021, durante a segunda onda da covid-19 no Amazonas, morre Rosemary Pinto aos 61 anos por complicações da doença. Não foi uma notícia devastadora para mim, mas eu definiria como triste, não sei se é certo expressar isso, mas foi injusta. Aliás, existe morte justa?

O governador negacionista que ainda vou aqui explicar o porquê dele ser taxado dessa forma decidiu homenagear Rosemary Pinto. Seu nome foi dado a FVS-AM. A placa foi descerrada pelo político negacionista, que inclusive é jornalista. Faço aqui um apelo, jamais tomem este sujeito como referência, pois não é.

A mulher que tomava decisões sobre medidas restritivas na tentativa de salvar vidas no Amazonas e evitar que o vírus se espalhasse foi vencida não pela doença, mas por quem mandava no estado. Com 27 anos de carreira, a epidemiologista fez tudo o que estava a seu alcance. Pena, que precisava lidar com quem nega a ciência.

Deixo aqui meus votos aos seu familiares, amigos e colegas de trabalho. Obrigado Rosemary Pinto.

Foto: Reprodução/FVS-AM

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