Na semana do primeiro caso de Covid no Amazonas, toda equipe do site em que eu havia começado a traballhar foi convocada para uma reunião importante na casa do diretor-presidente.
O ambiente a parte, muito aconchegante, não só pelo fato da raiz parintinense do anfitrião, pois todo filho de Parintins tem como virtude, o acolhimento aos visitantes.
Mas o assunto da reunião era sério. Parecia um prenúncio do que estava por vir. Decidimos ali entre manter a rotina de trabalho na redação do site no presencial ou se trabalharíamos de casa, o home office que passou a ser adotado ainda mais com a pandemia.
Para mim, tudo era novo. Era a covid chegando com tantas incertezas, um novo emprego e ainda por cima um novo formato de trabalho. Até então, eu só compreendia que jornalismo se faz na rua, pois na redação se pensa e produz. É como uma fábrica, com uma matéria prima barata e valorosa encontrada do lado de fora, em qualquer lugar.
Após a reunião, estava tudo decidido, era o home office. E aquela sensação de que algo ruim estava por bater a porta, ainda permanecia.
Na primeira semana, a rotina era começar pela manhã às 9h e ir até por volta das 20h. Haja carga horária de trabalho.
Eu naquele tempo passei a procurar novos meios de caçar pautas, já que não saia mais, pois agora era online. A comunicação entre mim e o diretor de redação era por WhatsApp. Trocas de mensagens curtas, objetivas, links de matérias para ser publicadas, áudios, vídeos, fotos, tudo que pudesse virar notícia ou reportagem.
Sim, é possível fazer jornalismo desta forma. Você só se acomoda se quiser. E isso é algo que não fiz mesmo com um ritmo novo de trabalho.
Até então, tudo isso que relatei aqui, havia ocorrido antes das coisas piorarem com a chegada de covid no estado.
Os dias se passaram desde então, e cada vez mais os casos da doença aumentavam. As primeiras coletivas de imprensa sobre a covid eram presenciais. Depois de perceberem a gravidade da situação, passaram a serem realizadas por meio de lives no facebook, na página oficial do governo do Amazonas. Eu nunca saí de casa para essas coletivas. E é este olhar que quero registrar aqui. Muito além do meu olhar estático para uma tela durante mais de 1 ano de pandemia.
Uma mulher de óculos, de olhos claros, com uma feição tranquila e preocupada ao mesmo tempo aparecia, era Rosemary Pinto, na época, presidente da Fundação de Vigilância em Saúde. Ela passou a ser a mulher dos boletins da covid. Eu ainda vou escrever sobre ela. Ainda não é o momento. Mas ela foi calmaria naquele período sombrio. Esta é a minha impressão.
Confesso que eu sentia muito medo, mas que se despejava na intensidade do trabalho, em acompanhar obrigatoriamente os noticiários e as atualizações sobre a situação da covid-19 no Amazonas. Foi difícil. Eu não saia mais de casa. Era uma repórter de política, trabalhando sentado no quarto, de frente para a tela do notebook por várias horas, e de olho nas redes sociais no meu celular. Esses eram meus instrumentos de trabalhos.
Nesse período, eu senti na pele como o papel do jornalista muda tão rápido e de como precisamos nos adaptar, principalmente ao medo. O medo de morrer sendo vítima de algo desconhecido.
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Foto: Gabriel Ferreira