Por Larissa Gemaque*
Em Itacoatiara, município da região metropolitana de Manaus, o Laboratório de Ecologia da Pesca da Amazônia (ECOAM), coordenado pelo grupo de pesquisa Kunhã sob orientação da professora Dra. Samantha Aquino, tem se destacado no Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET-UFAM) com pesquisas sobre as mudanças nas áreas de conservação e como o conhecimento ecológico local (CEL) dos pescadores pode contribuir na preservação ambiental.
Esse conhecimento é essencial para manejar de forma sustentável os recursos pesqueiros, sobretudo em regiões remotas da Amazônia, onde faltam políticas públicas adequadas de monitoramento e conservação.
O trabalho iniciou com a mestranda em Ciência e Tecnologia para Recursos Amazônicos (PPCTRA-UFAM), Rebeca Perdigão na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uatumã, no Amazonas. Durante visitas na localidade, cerca de 54 pescadores ribeirinhos foram entrevistados e demostraram domínio sobre as técnicas, espécies e conhecimento de ambientes onde a pesca pode ser realizada reforçando a importância do conhecimento ecológico local (CEL) na formulação de políticas públicas.
A pesquisa comparou as práticas de pesca e a composição das capturas antes e depois da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e observou a redução de apetrechos predatórios como arpões, alterações nas espécies pescadas, maior regulação sobre pesca comercial e valorização da pesca para subsistência.
O estudo também identificou conflitos entre os pescadores, como disputas entre comunidades por áreas de pesca e tensões com a gestão local. Apesar disso, os comunitários participam ativamente da fiscalização e organização da pesca no período do “peixe gordo” (março a agosto), com apoio de instituições como a SEMA/DEMUC.
A coordenadora Samantha destacou como a pesquisa contribuiu para refinar o olhar dos alunos envolvidos sobre o modo de vida da população ribeirinhas nas áreas de conservação. “Eu vejo como eles trazem relatos da vivência deles em campo, então eu acho superimportante esse tipo de pesquisa na comunidade para que eles reconheçam a área onde eles vivem as populações, isso também muda um pouco a percepção deles, o olhar deles sobre a Amazônia.”
Além disso, a professora ressaltou que, à medida que a pesquisa ganhou proporção, tornou-se um meio de comunicação entre a comunidade e às instituições públicas. “Essa aproximação do diálogo não é só em relação à pesquisa, é a universidade ser parceira, de trazer informações que eles não conheciam, não só em relação ao conteúdo ecológico e biológico, mas, um acesso às informações de um contexto político da cidade, de acessar algum benefício que eles não conheciam. Às vezes, eles sabem no benefício, mas não sabem acessar os caminhos, que hoje a maior parte desses caminhos são via WhatsApp, via o site, e eles não têm acesso à internet. Então, a gente acaba chegando com uma informação, para que eles cheguem na instituição”, declarou.
O Ensino da Ciência na Comunidade
O laboratório Ecoam também realiza atividades interdisciplinares, entre elas, a prática de eventos para a popularização da ciência. Através de ex-alunos que atuam como professores nas comunidades, o grupo é solicitado para realizar ações na comunidade, palestras para os adultos moradores da comunidade e oficinas para as crianças. A oficina Intitulada como “Ciência na comunidade” é realizada por alunos e professores a fim de promover a alfabetização cientifica – química, física e biologia – dos alunos do fundamental II de escolas rurais do município de Itacoatiara.
O professor utiliza metodologias alternativas, através de perguntas, fotos, vídeos, slides e o uso de uma linguagem simplificada que sejam de fácil compreensão para as crianças e haja interação. Os estudantes, por sua vez, têm acesso a experimentos científicos que permite o manuseio de microscópios, contato com maquetes, atividades didáticas e competições.
“É um evento para a comunidade! No último ano a gente teve também a inserção de uma exposição de organismos invertebrados amazônicos, o nosso colega também o professor Gustavo fez a exposição dos organismos na área externa da escola, então chamou mais a atenção das comunidades” relatou Samantha.
A participante do grupo de pesquisa, Rebeca Perdigão, compartilha a sua experiência com a interação das crianças durante as oficinas. “Para as crianças menorzinhas, a gente leva os experimentos. Aí, é aquela emoção deles de ver no microscópio, nem que seja um pontinho preto ali, fica, ‘Ai, meu Deus do céu!’ Para as crianças maiores, eles já ficam meio de dispersos. O que a gente faz? A gente bora montar uma competição, então a gente forma e joga. Eles adoram!”, contou.
Com a finalidade de gerar conhecimento e diversão, Rebeca explicou que os participantes do projeto buscam levar os conteúdos científicos de forma didática interativa baseado na idade dos alunos da comunidade, “então, a gente leva de fato a ciência e adapta para eles, para mostrar que a ciência, ela é divertida!”
“Se eles não conseguem acessar a ciência, a gente leva a ciência até eles!” finalizou Rebeca.
*Repórter do Portal da Ciência (sob a supervisão do Prof. Me. Gabriel Ferreira)
Foto: Anne Karoline